Na Rua Ary Barroso tem coqueiro que dá coco (butiá), mas não dá mais para armar nenhuma rede, não, nem nas noites claras de luar, quem dirá nas noites escuras em que as lâmpadas do poste só fazem iluminar a rua, não permitindo que se atravesse a luminosidade para penetrar no escuro dos quintais onde se esgueiram os ladrões.
O trovador já não canta à merencória luz da lua pois nem a vizinhança do Distrito Policial lhe dá paz e segurança.
Os moradores colocaram à frente de cada casa placa de “Vende-se este imóvel”, aproveitando-se da bolha inflacionária em que os imóveis pularam vários degraus na valorização, na comissão das vendas e no programa “Minha casa, minha vida” em que o juro baixinho, baixinho, alegra a Caixa Econômica e grandes empreendedores imobiliários ainda mais do que a massa remendada da classe média.
Vem aí o novo governo e seu choque de gestão.
Em nome dos eleitores que moram na Rua Ary Barroso e já não aguentam mais revólver de bandido na cabeça, a sua rua foi eleita para a concretização da primeira medida do choque de gestão.
Sossegai, moradores, não é preciso vender o imóvel. O plano de segurança fará com que esqueçais das vezes em que enfrentastes os bandidos que levaram os vossos carros, vossos documentos e mataram vossos cachorros.
O governo dominará a pracinha, não mais de traficantes e de planejadores de roubos, mas das criancinhas, iluminada e com guarda de plantão, com o planejamento e a arte do que foi aplicado no Morro do Alemão. Primeiro, o domínio do território, depois, a paz e os direitos individuais de ir e vir, mais os sociais.
Ficará ainda a lembrança traumatizante, como um sonho ruim, em que se foi o carro do japonês, documentos e dinheiro do policial aposentado, sob a mira do revólver; do italiano, várias vezes atacado, mataram o cachorro a tiros; do português, arrombaram a porta, levaram o notebook, o dvd e o dinheirinho, duramente poupado para o box do banheiro, os botijões de gás da velhinha, a bicicleta dos netos, a tranquilidade e a paz de todo mundo.
O choque de gestão é para isso mesmo. Ele não começa neo-liberalmente abaixando vencimentos de servidor público, reduzindo contingente de policiais e professores, e avaliando desempenho com finalidade de seu desligamento do quadro funcional.
A medida da eficiência está na repercussão que os atos administrativos ensejarão no atingimento de melhoria de condições de vida, de qualidade do desenvolvimento humano, no alcance de um patamar mais elevado no prestígio da dignidade da pessoa.
Segurança urbana e tranquilidade para os angustiados moradores da Rua Ary Barroso, microcosmo da metrópole, constam da meta prioritária para o primeiro dia da posse do novo governo.
Canta Ary Barroso, o Brasil lindo e trigueiro, Brasil brasileiro.
Canta, morador da Ary Barroso, Brasil, Brasil, prá mim, prá mim.