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3º Edição

 

Matéria
A Chave do Sucesso
Revista Prática Jurídica

A estupidez do horário de verão

Aloísio Surgik

Bem que o escritor húngaro Paul Tabori poderia ter incluído em seu famoso livro - A HISTÓRIA DA ESTUPIDEZ HUMANA - um capítulo especial sobre “a estupidez do horário de verão”.

Não consigo encontrar razão alguma que justifique tamanha insensatez, cuja única explicação se resume numa discutível economia de energia elétrica.

Tenho dúvidas sobre os pífios índices dessa decantada economia que, ano após ano, vem oscilando entre 1% a 4%. Afinal, até em pesquisas eleitorais esta percentagem é suscetível de erro.

Ademais, convém considerar que, nos grandes centros industriais, como S. Paulo, por exemplo, os trabalhadores levam mais tempo para se locomover ao trabalho. Assim, tendo que despertar mais cedo (ainda no escuro), o consumo de energia elétrica aumenta em vez de diminuir.

Porém, ainda que fosse verdadeira essa propalada economia, estaria muito longe de justificar a violência ao relógio biológico das pessoas e à própria natureza.

Por que haveremos de subordinar-nos à lógica da economia de mercado até mesmo em prejuízo da qualidade de vida, quando seria mais coerente e sensato buscar outros meios capazes de acrescentar esses míseros índices?

Ao que tudo indica, estamos diante de mais uma forma de escravidão.

Nas suas origens, o horário de verão remonta a William Willet (1865-1915), construtor britânico que, em 1907, defendeu a idéia de adotar um horário de verão, sob o argumento de que haveria mais tempo para o lazer, menos criminalidade e redução no consumo de luz artificial.

 

A iniciativa provocou logo uma forte oposição por parte de fazendeiros e outros setores da sociedade, sobretudo entre pais de famílias, preocupados com os filhos que teriam de acordar mais cedo.

 

Por ironia do destino, Willet não viveu o suficiente para ver concretizada sua idéia. O primeiro país a adotá-la foi a Alemanha, em 1916; em seguida, outros países europeus, por causa da Primeira Guerra Mundial, como esforço de guerra para a economia de carvão - principal fonte de energia elétrica à época.

 

Nos EUA, sob forte relutância, a introdução do horário de verão ocorreu em 1918. E o principal motivo foi também a Primeira Guerra Mundial.

 

No Brasil, cuja energia, à razão de 95% é de origem hidrelétrica e dispõe de abundantes recursos fluviais, ele também foi criado, por decreto, em 1931. Servilismo ou mera mania de imitação, o certo é que o pretexto foi o mesmo: economia de energia elétrica.

 

E assim, o Brasil é o único país equatorial do mundo que adota o horário de verão.

 

Observe-se ainda que nos países equatoriais (cortados pela linha do equador), como é o nosso caso, a incidência de luz solar é relativamente uniforme durante todo o ano, sendo de pouca vantagem a adoção do horário de verão. Portanto, é desproporcional aos transtornos biológicos e ao desconforto causado.

 

Estudo realizado no Canadá pela University of British Columbia em 1991 e 1992, constatou um aumento de 8% de acidentes de trânsito no dia seguinte ao da implantação do horário de verão.

 

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 40% dos brasileiros tem distúrbio de sono, em grande parte afetado no período do horário de verão.

 

"O sono das pessoas no horário de verão não é restaurador”, diz o pneumologista e chefe do Laboratório do Sono da UnB, Carlos Viegas. Ele também entende que o horário de verão não deveria ser implantado.

 

É o caso então de perguntarmos: Não estaria aí mais uma forma de ostentação do poder do Estado?

 

De fato, no tempo das monarquias absolutistas, em colaboração com a Igreja, bastava que os sinos chamassem para o rito da oração, depois para o trabalho, e todos obedeciam.

Posteriormente, com a Revolução Industrial, a tirania do relógio despertador arrancava os trabalhadores da cama, e todos se dirigiam às fábricas, às oficinas, enfim, ao serviço.

 

Atualmente, o despotismo estatal do horário de verão chega a antecipar de uma hora a imposição do exercício da obediência.

 

E todos devem curvar-se prontamente à obediência irrestrita e incondicional, sob pena de sérias complicações, até mesmo aqueles que não concordam, como eu, e relutam contra tamanha estupidez.

 

Eis aí mais uma forma da escravidão moderna.

 

 

 

ALOÍSIO SURGIK é professor universitário,

Doutor em Direito pela USP e Membro da

Academia Paranaense de Letras Jurídicas.

 

 

 

(Publicado no jornal Gazeta do Povo, Curitiba, 20/11/2006, p. 13)